Destaque Internacional - Informes de Coyuntura - Año IX - No. 203 - Madrid, 7 de agosto de 2006 - Responsable: Javier González. Tradução: Edson Carlos de Oliveira
A deseperação dos populistas mexicanos e latino-americanos pelo fato do México estar escapando de suas mãos se explica, ainda que não se justifique, entre outras razões porque desmente o "mito" publicitário sobre a irreversibilidade do avanço ezquerdista no continente
1. Depois das disputadas eleições presidenciais mexicanas de 2 de julho pp., cujo vencedor ainda não foi proclamado oficialmente pelo Tribunal Eleitoral do Poder Judicial da Federação (TEPJF), o candidato populista Andrés Manuel López Obrador está tentando ganhar por mal o que não conseguiu, até o momento, ganhar por bem, mediante uma chantagem política sobre as autoridades eleitorais desse país.
O 6 de julho pp., o Instituto Federal Eleitoral (IFE), anunciou que o candidato oficial Felipe Calderón havia obtido 243.394 votos a mais que López Obrador, o que significa uma vantagem de 0,58%. O candidato populista apresentou então ante o TEPJF numerosas denuncias de “fraude” e um pedido de recontagem total dos votos.
2. A López Obrador o assistia e o assiste todo o direito de apelar de acordo com o disposto pelas leis eleitorais, tal como o fez. Não obstante, não contente com isto, o candidato populista inflamou seus seguidores, lançando-os em uma manobra de “resistência civil” que invadiu e instalou “acampamento” nas principais avenidas da Cidad de México, a capital do país, provocando enormes transtornos e tentando dessa maneira dobrar ao Tribunal Eleitoral.
Sem embargo, a chantagem do candidato de esquerda parece estar transformando-se em um "boomerang", porque tanto no plano interno mexicano, quanto no plano internacional, se vão confirmando as suspeitas que muitos haviam manifestado sobre as tendências autoritárias, de inspiração “chavista”, de dita personalidade política, que tentavam esconder-se detrás de uma aparência de simpatia e jovialidade.
3. O TEPJF, em sessão pública realizada em 5 de agosto pp., não cedeu antes a pressão das hostes de esquerda, decidindo que não procedia a recontagem total dos votos solicitado, e determinando a recontagem parcial em 9% das mesas eleitorais cujos resultados podiam suscitar dúvidas. Seis de setembro é o prazo máximo que o alto tribunal tem para decidir, de maneira inapelável, sobre a validez da eleição e designar o novo presidente eleito.
Imediatamente depois de ter sido anunciada a falha do TEPJF, López Obrador, continuando com sua política do “tudo ou nada", atiçou a seus partidários a redobrar a “resistência civil”, o que está criando uma tensão que poderá levar ao México a um perigoso enfrentamento interno. De qualquer maneira, como o efeito que já se faz sentir é um aumento do desprestígio nacional e internacional de López Obrador, que está inclusive comprometendo seu futuro político.
4. A desesperação dos populistas mexicanos e latino-americanos pelo fato de que o México está escapando de suas mãos se explica, ainda que, obviamente, não justifique, entre outras razões pelo fato de que sucessivos triunfos eleitorais esquerdistas na América Latina foram alimentando uma espécie de “mito” publicitário sobre a irreversibilidade de seu avanço em todo o continente.
Sem embargo, o tropeço do candidato “chavista” Ollanta Humala, no Peru, foi um primeiro sinal de alerta de que estava produzindo-se um distanciamento entre o “mito” e a realidade. Agora , um tropeço do candidato das esquerdas no México poderá desmentir mais categoricamente ainda esse mito publicitário sobre a irreversibilidade do avanço populista. A ditos tropeços se somam os sérios casos de corrupção que estão afetando aos Governos Lula, no Brasil, e de Chaves, na Venezuela; e, sem sombra de dúvidas, também a incerteza sobre a sobrevivência do regime comunista cubano.