A propósito do post (
Aos maconheiros de plantão: O “argumento-fumaça”, dos defensores da maconha, é uma droga!
) recebi uma objeção indignada (abaixo), assinada por Morpheus. Ignoro
se nome ou pseudônimo. Em todo caso, é o nome do deus do sono e dos
sonhos...
Apesar desse nosso amigo sonhar com a maconha liberada e apresentar um argumento "viciado", segui seu conselho: “pesquise um pouco mais”.
Comecei, mas logo de início interrompi, pois me deparei com uma pesquisa
já feita. Assim, além de ganhar tempo, posso transcrever um texto, não
desse modesto rabiscador-blogueiro, mas de especialistas no assunto
drogas. Eles deixam claro que a maconha
é considerada uma droga leve só em tese, pois, na prática, ela abre
portas para o pior do submundo. (segue mais abaixo, matéria publicada na
revista “VEJA”).
Morpheus deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Aos maconheiros de plantão: O “argumento-fumaça”,...":
“A passeata em si vai contra o tráfico!
Pois regularizando o consumo, não haveria o por que de alguém querer
comprar uma erva toda modificada quimicamente de um traficante!
"Imagine o dinheiro que os policiais corruptos iriam deixar de ganhar
dos traficantes? Por que a policia não fecha as bocas que vendem drogas?
"É pura burrice pensar que o 'sonho de qualquer traficante é a maconha liberada'......
"Pesquise um pouco mais.. Pois é ignorância ser contra algo que nem
mesmo conhece. O alcool é uma droga muito mais forte e viciante e mesmo
assim é vista como algo comum.. isso é certo? Só porque está dentro da
'lei'?
"Cigarro é muito mais viciante que a erva.. Falo isso por experiência própria. E está dentro da 'lei'..
"Antigamente era BONITO fumar, concorda? Mas, hoje em dia.. a MIDIA
impoem o contrario.. Agora não é mais bonito fumar.. pois é PROVADO que
mata.. e mesmo assim está na lei.. é permitido!
"Morpheus"
***
Antes
de transcrever trechos da matéria publicada na revista “VEJA”
(06/06/2011), intitulada “A utopia de desfazer o nó”, de Otávio Cabral,
transcrevo algumas cartas que a revista recebeu ("VEJA" 15/06/2011),
comentando tal matéria:
"Nunca prendemos tanta gente. A razão é simples: o número de
criminosos está aumentando porque a demanda por droga também cresceu. É a
lei da oferta e da procura".
Delegado Reinaldo Corrêa
Departamento de narcóticos da polícia paulista.
“Muito interessante a forma como foi feita a reportagem,
abrindo espaço para reflexões. É visível que o problema não se resolve
com o trabalho de combate. A solução real é a educação de qualidade para
as nossas crianças e adolescentes como instrumento de prevenção.
Trabalho há quase trinta anos com usuários de drogas e dependentes
químicos e posso confirmar os sérios riscos que a pessoa corre ao fumar maconha.
Entre outros perigos, quando o indivíduo é geneticamente predisposto
para a psicose (o que é previamente desconhecido por ele), o uso pode
desencadear um surto e até um quadro psicótico permanente”.
Roberto Lúcio Viera de Souza
Médico psiquiatra
Belo Horizonte, MG
“Fernando Henrique Cardoso sai “explicando” o THC (maconha
) e diz que errou quando agiu antes. Quem garante que ele está certo agora?”
José Francisco Veloso
Doutor em dependência química
Vila Velha, ES
“O Brasil de hoje insiste em privilegiar as minorias, com métodos
subliminares, ineficientes e ofensivos à maioria. A regulamentação do
uso da maconha
atende somente aos apelos da hipocrisia e da indolência. O cidadão de
bem não está interessado nesse debate, não obstante seja vitimado caos
social provocado pela sua demanda. A liberação não reduzirá a violência
nem o poder do narcotráfico, muito menos o consumo. A violência
persistiria, porque existem outras drogas mais baratas e devastadoras. O
poder do narcotráfico restaria intocável, mediante o fomento do mercado
paralelo. E o adepto do baseado prosseguiria puxando o seu, sem ser
importunado. Antes das experiências alienígenas o Brasil precisa provar
um daqueles planos de segurança sucessivamente engavetados pelos
governantes, precisa da verticalização dos bons exemplos e da atenção
aos seus filhos decentes e trabalhadores. A perdição da humanidade jaz
nessa relatividade dos conceitos, responsável pela insegurança jurídica,
pela descrença nas instituições, pelo desmantelamento dos lares, pelos
desvarios da sociedade”.
Lucia Castralli
Delegada de Polícia Federal
Salvador, BA
“É ilusão acreditar que a descriminalização de drogas vai
acabar com o tráfico. O tráfico é igual ao contrabandista, sempre
oferecerá um preço mais baixo porque não paga impostos”.
Ronaldo Pianowski de Moraes
A utopia de desfazer o nó
Veja - 06/06/2011 [trechos]
Otávio Cabral
O Brasil é o único país que faz fronteira com os três maiores produtores
de coca do mundo: Peru, Colômbia e Bolívia. Dos três, apenas a Colômbia
tem uma política agressiva de combate às drogas. A Bolívia é governada
por um ex-cocalero, e o Peru será apontado na próxima semana pela ONU
como o maior produtor mundial da droga. O plantio da coca, antes
concentrado nos vales andinos, já chegou à Amazônia peruana, ao lado do
Brasil. No total, as fronteiras brasileiras somam mais de 24000
quilômetros. Mesmo que o país contasse com o mais eficiente sistema de
segurança do mundo, seria impossível barrar a entrada de drogas por tal
vastidão – que dirá, então, com os míseros 27 postos da Polícia Federal
instalados para vigiá-la. Sofremos, ainda, com corrupção generalizada e
verticalizada, que atinge todos os escalões de todas as instituições. A
alta taxa de informalidade da economia é outra grande amiga dos
criminosos: permite ao tráfico fincar estacas em rodas as regiões do
país, cooptando jovens sem instrução, de famílias pobres e
desestruturadas. Da geografia às mazelas crônicas do país, portanto,
tudo conspira para que no Brasil o tráfico floresça e produza sua horda
de viciados. Que, nem adianta enganar-se, não ganhariam nenhum amparo
real de um sistema de saúde tão falido que, em certas regiões, não
consegue atender a queixas básicas.
Países que já solucionaram essas questões provavelmente teriam a ganhar
em ao menos examinar argumentos como os expostos em Quebrando o Tabu
antes de descartá-las. Mas, mesmo nesses, a descriminalização deixaria a
descoberto uma questão essencial. Veja-se o
caso da Holanda, onde a venda varejista de maconha
e haxixe em coffee shops é aceita e regulada e a venda no atacado, por
assim dizer, é crime. Como a droga segue abastecendo o comércio, é óbvio
que há uma medida de conivência do estado com o tráfico. Que, sim, é um
problema do qual os holandeses têm de se defender ferozmente. Por isso
países como a Suécia reverteram suas políticas liberalizantes. No início da década de 60, os suecos estiveram entre os primeiros a aceitar o uso de entorpecentes.
Mas o afrouxamento fez explodir o número de usuários e congestionou o sistema de saúde.
Na década seguinte, então, o país endureceu a legislação e voltou a
proibir ouso e a impor penas tanto a traficantes como a usuários. Hoje, a
Suécia tem um terço da média europeia de usuários de drogas. Na
Suíça, na década de 80, foram criados os
"parques da seringa", onde se podia consumir qualquer tipo de droga sem ser incomodado. A ex-presidente Ruth Dreifuss (1999) admite o fracasso:
"Perdemos o controle dos parques: os criminosos os aproveitavam para trazer drogas para os viciados". Por dez anos seguidos, nos Estados Unidos, a política da tolerância zero fez cair o consumo de maconha entre os estudantes. Há três anos, ele voltou a subir: segundo especialistas, efeito direto da liberação da maconha para fins medicinais na Califórnia e em outra dezena de estados – a qual favoreceu o surgimento de uma rede de
"médicos-traficantes" que prescrevem a erva a qualquer um que pague entre 100 e 500 dólares por uma receita.
No Brasil, qualquer discussão que vise a mitigar o problema das drogas tem de reconhecer
a tragédia pandêmica e assassina do crack. Essa forma de consumir cocaína, antes restrita às grandes cidades, hoje está espalhada pelo país. Mais destrutivo ainda, o
óxi chegou aos centros urbanos a 2 reais a pedra.
"Não há dúvida de que a maconha é uma porta de entrada. Ninguém começa direto no crack. Primeiro é o cigarro, depois uma cervejinha, um baseado...", diz o psiquiatra André Malbergier, da Universidade de São Paulo. Segundo essa visão, qualquer tolerância ao uso da maconha provocaria, de imediato, um aumento do consumo, alargando a porta de entrada a que se refere o psiquiatra Malbergier.
[...]
O tráfico tem a maconha como seu produto mais vendido, embora menos lucrativo que a cocaína e o crack. Tráfico que sitia partes de cidades,
arregimenta jovens para o crime, decreta toque de recolher, substitui o estado e
abre portas para outros tipos de delito, como tráfico de armas, sequestro, homicídio e roubo de carros. Em suma,
quem fuma maconha está ajudando a movimentar a roda do crime.
Ela é também um problema de saúde pública. Pelo menos 6% dos usuários
se tornam viciados. É menos que o álcool (15%) e a cocaína (40%), mas o
índice não pode ser desprezado. No período de uso intenso, há alteração
da memória e da capacidade de concentração. Se for muito utilizada na
adolescência, pode antecipar transtornos psíquicos.
"Em meu consultório, atendo garotos que perderam o controle. Como acham que a maconha não traz problemas, eles usam de manhã, de tarde e à noite. Saem do eixo, deixam a escola", alerta Arthur Guerra.
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